quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Artigo: TARSO GENRO E O DESMONTE DA ESCOLA PÚBLICA

Mário Maestri & Florence Carboni *

Foi uma vitória indiscutível de Tarso Genro sobre o sindicalismo combativo sulino, ao liquidar a greve dos professores da rede pública em apenas duas semanas, sem qualquer concessão. A grande imprensa e o patronato rio-grandenses deleitaram-se com massacre sindical promovido pelo governador de partido que já lutou por país mais solidário, justo e cidadão. Comprovaria-se a tese de que os políticos de esquerda lançam os ideais pela janela para abraçar as benesses próprias à gestão do Estado a serviço dos donos da riqueza e do poder. 

A derrota do professorado foi enorme, já que lutava apenas e exclusivamente por direito assegurados por lei federal, cumprida pela grande maioria dos estados da federação. Ou seja, o pagamento do piso nacional da categoria, atualmente em pouco mais de seiscentos reais, para vinte horas de trabalho semanais, e contra a proposta conservadora e improvisada de reforma curricular que levará à desqualificação geral de ensino médio publico sulino, há décadas, mal das pernas.

O magistério público sulino tem uma das mais baixas remunerações iniciais do Brasil. Apesar de constituir lei federal desde 2008, reafirmada pelo Superior Tribunal Federal, o desmilinguido piso salarial foi vilmente negado pelo governo Yeda Cruzius e, agora, por  Tarso Pinóquio Genro, que pede assim que esqueçam tudo o que já disse e escreveu no passado e, sobretudo, olvidem suas promessas na campanha recente. No Brasil, apenas meia dúzia de estados seguem irredutíveis no descumprimento da legislação federal.
 
A desculpa para sonegar parte do salário devido aos professores é a eterna falta de recursos. Porém, apenas em 2010, a desoneração do capital privado significou uma perda de quase dez bilhões de reais, mais de  30% da arrecadação estadual!  E, neste 2011, Tarso Genro prometeu ampliar ainda mais a renúncia fiscal em favor dos interesses privados, sobretudo através do Fundo Operação Empresa. No passado, o fundo foi criticado justa e duramente pelo próprio PT, por irrigar com recursos públicos interesses privados. Apenas uma pequena parte deste 'despilfarro' das rendas públicas garantiria uma remuneração minimamente justa  aos professores e recursos para a escola pública.

Um Novo Ensino Médio

Após a derrota da greve, Tarso Genro chantageia as direções do professorado, condicionando a abertura das discussões e, conseqüentemente, o abonamento dos dias parados, após a reposição das aulas, à não realização de protestos e atos públicos sindicais contra a reestruturação pedagógica do ensino médio público. Ou seja, exige o abandono pela direção sindical de também este ponto de sua pauta de mobilização e luta, em defesa da qualidade do sistema público estadual de ensino.

Sob a proposta pomposa de "aproximar a escola ao mercado de trabalho", a improvisada modificação do currículo, a ser aplicada já no início de 2012, previa que disciplinas fundamentais como português, matemática, física e, logicamente, história, ocupassem apenas 25% da carga horária, no terceiro ano do ensino médio. Tudo em favor de uma fantasmagórica "parte diversificada" do currículo, a ser construída à medida que o andor ponha-se em marcha, caso se ponha!

Entre outras propostas surrealistas do novo programa do "Ensino Médio Politécnico", encontra-se o envio do alunado para cumprir estágios e ocupar-se em "emprego formal ou não formal" - não obrigatoriamente remunerado, é claro - nas indústrias, oficinas, escritórios, etc. Medidas mirabolantes com as quais o governo procura engambelar a comunidade sulina com arremedo de ensino profissionalizante través da literal expulsão dos alunos do espaço escolar, em movimento pedagógico que, no frigir dos ovos, desonera os investimentos públicos no ensino!

As medidas propostas assentarão golpe terrível na formação já mais do que deficiente do alunado, sem lhe conceder qualquer formação técnico-profissional efetiva. Destaque-se que essas medidas se restringem exclusivamente à rede pública, poupando o ensino privado da letal alquimia pedagógica. O que obrigará os pais a enviarem seus filhos às cada vez mais caras escolas privadas, para terem educação minimamente qualificado que permita, por exemplo, participar de provas como o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), fundamental para ingresso em curso de nível superior  na vida profissional.
  
Os Trabalhadores São Gente

Como os engenheiros, advogados, médicos, etc., também os pedreiros, mecânicos, eletricistas, informáticos, motoristas, torneiros-mecânicos, enfermeiros, policiais, etc.  necessitam possuir competência comunicativa, verbal e escrita, correta, lógica e rica, e conhecer em forma substantiva os elementos básicos de matemática, da física, da química, da história, da geografia, de língua estrangeira, para desempenharem em forma qualificada suas funções sociais específicas e se inserirem funcional e qualitativamente na sociedade.

Sobretudo, antes de propostas modernosas e estapafúrdias tiradas da algibeira pelo novo governo, em um passe de mágica, para lançar fumo nos olhos da população sulina, como o diálogo com as "novas tecnologias" e a preparação da "inteligência para os novos desafios", o ensino médio no Rio Grande do Sul tem que fazer sua lição básica de casa - ensinar os alunos a pensar, a expressar-se, a ler e a escrever corretamente.

Durante todo o ciclo fundamental e médio, o ensino deve desdobrar-se em atividades teóricas e práticas, harmonicamente distribuídas e integradas. Deve fornecer formação básica e sólida em práticas hoje imprescindíveis à vida social e profissional - digitação, informática, etc. Aprendizado que implica que todas as escolas possuam efetivamente laboratórios e bibliotecas acessíveis a todos os alunos, pois elas são o lócus privilegiado do aprendizado. O que exige, convenhamos, investimentos pouco significativos. Essa formação é a base imprescindível para qualquer cultura técnica.

Não há outro caminho a ser seguido. Uma escola pública livre, laica, gratuita e de qualidade, capaz de propiciar uma formação básica sólida e efetiva, constitui o único caminho capaz de armar uma enorme parte da população sulina para a vida social e profissional, alavancando poderosamente o próprio know-how elementar do Estado. Uma escola pública de qualidade constitui igualmente de um dos mais poderosos instrumentos de sociabilização da comunidade rio-grandense.

Soluções Simples

Para alcançarmos a escola que necessitamos, não serve atos de alquimia, que se sucedem no Rio Grande do Sul, monotonamente, a cada governo empossado, contribuindo inexoravelmente ao sucateamento do ensino público estadual - quem não se lembra do estrago causado pelo "Calendário Rotativo", a solução miraculosa para a rede pública do governo Collares! Impõe-se apenas formação de qualidade para o corpo docente, com remunerações e jornadas de trabalho condizentes com a atividade de ensino.

Desde talvez o distante governo de Leonel de Moura Brizola, a partir da ditadura militar, o ensino público estadual tem sido objeto de inexorável desmonte pelos governos de todos os sabores políticos,  associado à transferência dos recursos públicos aos grandes interesses privados. Uma política que sempre teve como corolário a expansão do ensino privado, em uma ótica mercantil de voracidade pantagruélica, de qualidade relativa no geral também fortemente discutível.

A atual situação da escola pública no Rio Grande do Sul não se deve à incapacidade, ao descuido, à corrupção, etc. dos políticos, ainda que tudo isto desempenhe papel substancial nesse processo de degradação inexorável. A política de desmonte da rede pública corresponde apenas ao assinalado desvio dos recursos públicos para os interesses privados, baseado em convicção ideológica da imprescindível construção e reprodução de sociedade de classes a "duas velocidades". Nos fatos, vivemos o mesmo processo de degradação dos investimentos públicos na saúde, na segurança, na cultura, nos transportes, etc.

Sem inovar e inventar absolutamente nada, Tarso Genro e seu escudeiro para assuntos escolares prosseguem apenas e simplesmente em cavalgada histórica insana embalada pelo terrível aforismo de Friedrich Nietzsche de que, "se queremos criar escravos, não devemos educá-los como senhores". 

*Mário Maestri, 63, é historiador e professor do Curso e do Programa de Pós-Graduação em História da UPF. E-mail: maestri@via-rs. Florence Carboni, 59, é lingüista e professor do Curso de Letras da UFRGS.   E-mail: fcarboni@via-rs.net

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

NOTA DE REPÚDIO À REPRESSÃO AO MOVIMENTO ESTUDANTIL DA UPF

Na tarde do dia 14 de dezembro de 2011, a face mais obscura da Universidade de Passo Fundo se revelou novamente, quando um líder estudantil da Faculdade de Artes e Comunicação, membro do Coletivo Nada Será Como Antes e recentemente, eleito para o Diretório Acadêmico Carlos Gomes, recebeu um comunicado informal que teria vindo da Reitoria de que, caso não removesse uma imagem que criticava o descaso da UPF no seu perfil do Facebook, poderia perder sua bolsa.  

Se na gestão passada da Reitoria se ouvia rumores sobre supostas perseguições a professores e funcionários que discordavam, agora parece ser a vez dos estudantes.

Tudo começou em setembro quando foi aprovado pelo Conselho Universitário um aumento abusivo de 11.3% das mensalidades, sem uma ampla discussão com a comunidade acadêmica. Mesmo sem muito tempo, fomos até eles protestar contra tal medida.

Mas agora, no final do semestre, recebemos uma denúncia de que o Conselho Diretor da Fundação UPF também queria nos atingir, ao cancelar unilateralmente o desconto de até 10% nas mensalidades de quem efetuava o pagamento antecipado.

O Coletivo Nada Será Como Antes torna público seu repúdio a quaisquer ameaças que tenham como objetivo calar os estudantes, pois vivemos num país onde a livre manifestação nos é garantida pelo Artigo 5º da Constituição Brasileira, o qual resguarda os direitos e as garantias fundamentais do cidadão, em seus incisos IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato e IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença.

Campus Central da Universidade de Passo Fundo, 15 de dezembro de 2011.


Coletivo Nada Será Como Antes

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

AUMENTO REAL DAS MENSALIDADES DA UPF PODE CHEGAR A 19,3% EM 2012

Nesse final de semestre, boatos de que os convênios que permitiam um desconto de até 8% nas mensalidades para aqueles que pagassem antecipadamente teriam sido cancelados pelo Conselho Diretor da Fundação Universidade de Passo Fundo (FUPF) foram confirmados nessa tarde, em reunião solicitada pelo Diretório Acadêmico América Latina Livre (DAALL).

DECISÃO UNILATERAL FOI TOMADA NO FINAL DO SEMESTRE

Com isso, a partir de 2012, além do aumento abusivo de 11,3% das mensalidades de todos os estudantes, aprovado pelo Conselho Universitário (Consun) da UPF no mês de setembro, mais 4.362 estudantes que efetuavam o pagamento antecipado serão prejudicados.

ONDE ESTÁ A ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL?

Em contrapartida, nenhuma instância superior da instituição apresenta propostas e prazos para as reivindicações estudantis.  O Restaurante Universitário a preços populares e a Moradia Estudantil seguem distantes. Para piorar, o Presidente da FUPF, Professor Celso Carlos Gomes Gonçalves, teria afirmado que os preços praticados nos restaurantes da UPF não são abusivos. Por que então a diferença de custos entre os restaurantes do Campus Central da UPF e o dos demais restaurantes de Passo Fundo é tão grande?

POR MAIS DIÁLOGO NAS MUDANÇAS, EDUCAÇÃO NÃO É MERCADORIA!

Para a mantida (UPF) e da mantenedora (FUPF), os estudantes estão rebaixados a meros clientes que precisam pagar uma conta mais alta para que eles possam quitar as dívidas que eles mesmos criaram.

Tratar a educação como mercadoria e não como um direito é comum no setor privado, mas esses são os mesmos que ressaltam seguidamente o caráter comunitário da UPF, o que não passa de propaganda para “vender o vestibular”, “conquistar mais clientes” e almejarem receber verbas diretamente do poder público através do Projeto de Lei 7639/2010. Veja mais em IPES COMUNITÁRIAS E CONFESSIONAIS QUEREM VERBA PÚBLICA.

Tanto o aumento abusivo das mensalidades quanto o cancelamento dos convênios evidenciam uma clara intenção da Reitoria, do Consun e do Conselho Diretor de repassar para nós estudantes as dívidas (que o Coletivo Nada Será Como Antes já solicitou e teve o acesso negado) devido à má gestão dos últimos anos.

Visto que o DCE/UPF não cumpriu com a deliberação favorável do Colegiado de CAs e DAs em realizar Assembleia Geral no mês passado, o Coletivo Nada Será Como Antes defende que as dívidas da UPF e a política de Assistência Estudantil (RU a preços populares e Moradia Estudantil) sejam pautadas em Assembléia Geral dos Estudantes no início do próximo semestre.

REPUDIAMOS A DECISÃO UNILATERAL DE CANCELAR OS CONVÊNIOS, POIS REPRESENTA UM ATAQUE DIRETO AOS ESTUDANTES!

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

DCE/UPF DESRESPEITA O COLEGIADO DE CENTROS E DIRETÓRIOS ACADÊMICOS

A direção do Diretório Central dos Estudantes da Universidade de Passo Fundo não cumpriu com as decisões da última Reunião Ordinária do Colegiado de Centros e Diretórios Acadêmicos, isso em outubro.

Na ocasião, as lideranças da oposição encaminharam proposta de Assembléia Geral do DCE/UPF aberta a todos os estudantes, aceita pela maioria, para avaliar as ações contra o aumento de 11,3% das mensalidades bem como as demandas ligadas ao investimento em Assistência Estudantil por parte da instituição.

Além de não convocar a Assembléia Geral do DCE/UPF em novembro, a Reunião Ordinária do Colegiado do mês passado não foi chamada. Essas duas omissões são responsabilidades de toda a gestão da entidade, que detém a obrigação estatutária de cumprir com a deliberação das entidades de base dos estudantes.

O que é o Colegiado do DCE?

"Art. 18 - O Colegiado é constituído pelos Diretórios e Centros Acadêmicos das diversas unidades universitárias, através de dois representantes legalmente constituídos, com direito a voz e voto.

Art. 20 - O Colegiado deve se reunir ordinariamente ao menos uma vez por mês."

O que é a Assembléia Geral do DCE?

"Art. 10 - A Assembléia Geral é o órgão máximo do DCE/UPF, constituída por todos os estudantes regulamente matriculados na Universidade de Passo Fundo.

Art. 11 - Compete a Assembléia Geral:

I – deliberar sobre qualquer assunto de importância que envolve o interesse da classe;

II – eleger a Diretoria na forma deste regimento;

III – decretar, por maioria absoluta dos representantes, em última instância, a ilegalidade dos atos do colegiado, da diretoria, do Conselho Fiscal e de qualquer membro do DCE/UPF que colidam com este regimento;

IV – filiar, em única instância, o DCE/UPF a entidades universitárias a nível estadual e nacional;

V – decidir, em última instancia, sobre todos os assuntos do DCE/UPF."

Fonte: Estatuto do DCE/UPF

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

NOVAS PERSPECTIVAS PARA A CAUSA LGBT

Coordenação e Conselho Fiscal do Plural Coletivo LGBT

Neste domingo (04) aconteceu uma assembleia que deu início a vida jurídica do Plural Coletivo LGBT.  A assembleia teve a presença de mais de 70 pessoas entre autoridades e comunidade em geral que aprovaram o estatuto assim como a primeira diretoria da nova instituição. Por mais que a causa tenha ganhado visibilidade depois de personagens gays de destaque nas novelas, filmes e séries muitas pessoas ainda não conseguem aceitar um casal homoafetivo na rua, por exemplo.

O grupo que defende a causa surgiu após um debate sobre homofobia no âmbito universitário, organizado pelo Diretório Acadêmico América Latina Livre (DAALL), do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), da Universidade de Passo Fundo e começou com um pequeno grupo de pessoas motivadas pela intenção de instalar a Luta LGBT na nossa região. Hoje, o grupo que busca dar visibilidade à causa reúne cerca de 30 pessoas de Passo Fundo e região.

Segundo Ronaldo Canabarro, primeiro coordenador geral da organização sem fins lucrativos, o grupo tem como objetivos inserir o público LGBT na sociedade, sem medir esforços na luta pelo combate à homofobia, e na conquista de espaço e igualdade em Direitos Humanos.

Fonte: O Nacional