quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

PASSO FUNDO NA II CONFERÊNCIA NACIONAL LGBT

Por Oscar Santos*


Representando o Plural - Coletivo LGBT, fui para a II Conferência Nacional LGBT em Brasília. Com a posição crítica e a certeza de que a Conferência mais servia de palco à figuras ligadas ao governo, do que de luta eficaz, tive a experiência maravilhosa de ficar hospedado no ap de dois meninos da Cia Revolucionária Triângulo Rosa.

Levando material elaborado coletivamente, denunciamos a falta de representatividade à comunidade LGBT, já que muitos delegados para a conferência foram eleitos nas surdinas, pulando as etapas municipais, numa estratégia anti-democrática de calar quem se opõe às ações governamentais.

A delegação do RS presente era grande, e a maioria dos delegados, militantes do Partido dos Trabalhadores - PT. Cheguei a ouvir a crítica de que a especificação "contra PT" no nosso material poderia desagradar alguns. Mas quem disse que o objetivo é agradar com omissão de posicionamento? Agradar oposição como Marta Suplicy (Senadora do PT, relatora do PLC 122) fez ao tirar todo efeito do texto do projeto de lei que criminaliza a homofobia? Ou como fez a presidenta Dilma (ausente na Conferência) cedendo a chantagens e vetando o Kit Escola sem Homofobia?

Ouvi também, dizerem que somos muito radicais. Mas a mediação e amenização nos debates com os fundamentalistas, tem surtido efeito? Ou tem nos levado a uma regressão assustadora?

Os Grupos de Trabalho da II Conferência deixaram claro a total inatividade de tudo o que foi aprovado em 2008, na I Conferência, porque as propostas se repetiram. Aqueles que estão, de alguma forma ligados ao governo: polianos; Os indignados com a lentidão do movimento: brigando para expor sua revolta num espaço planejado para a censura da oposição.


A revolta contra o veto do Kit Escola sem Homofobia, apareceu no grito: "ÔÔÔ DILMA, PISÔ NA BOLA! HOMOFOBIA CONTINUA NA ESCOLA!". E a crítica contra a "amenização" da luta se fez presente quando o grito foi: "ÔÔÔ DILMA, QUE PAPELÃO! NÃO SE GOVERNA COM RELIGIÃO!". Mas as discussões acerca do polimento do PLC 122 se limitaram aos corredores. Não há crime homo-lesbo-bi-trasfóbico que não seja antecedido de discurso de ódio, e este foi liberado no novo texto do projeto que antes criminalizava de forma muito mais abrangente o que nos ameaça. Não há luta sem visibilidade, e a demonstração de afeto em público é carta fora deste novo baralho.

O grupo Mães pela Igualdade vem emocionar e reafirmar o quão importante é o apoio que recebemos Delas. Uma militante do grupo pegou o microfone e, aos prantos, fez um apelo aos ministérios representados: "Não deixem mais os nossos filhos morrerem!"

Na Conferência de 2008, a discussão sobre a sigla LGBT foi pautada e esta foi modificada, afim de dar visibilidade a movimentos que fazem parte desta luta. Nesta conferência, a novidade foi a discussão do destaque dos diferentes tipos de preconceitos sentidos pelos representados por essa sigla. Além da Homofobia, foram acrescentados nos textos os termos Lesbofobia, Bifobia e Transfobia. E na plenária final, uma surda pegou o microfone e oralizou, dizendo que era necessário incluir nas propostas o Capacitismo (preconceito e discriminação contra pessoas com deficiência.)

Tentamos disseminar dentro da Conferência, a percepção de que o Movimento LGBT está sendo cooptado pelo governo que não nos representa, e enfraquecido pela disputa entre ONG's. Tentamos esclarecer que os méritos de figuras ligadas ao governo devem ser reconhecidos, mas que seu vínculo a partidos que deixam nossos interesses em ultimo plano não pode ser esquecido.

Foram quatro dias de discussão, aprovação de propostas para formular diretrizes que servem de mera consulta ao Conselho Nacional LGBT. Quatro dias discutindo propostas de políticas públicas, sendo que nem lei de base temos aprovada, que sustente estas políticas encasteladas. Quatro dias em "banho-maria", frente a uma patética demonstração de preocupação com o público LGBT, na organização de um evento que  não o representa. Mais patético ainda é ver a ausência de crítica, de reflexão, e a inatividade dos movimentos sociais. As ONG's levantam bandeiras de partidos e espalham a opinião de que os movimentos sociais são muito radicais. Enquanto aproveitam de recursos de partidos que mediam nossos interesses com grandes autores de discursos de ódio.

Não se luta pela metade, posição é coisa séria e necessária. O movimento LGBT brasileiro necessita urgentemente de maior união, politização e seriedade!


* Estudante de Fonoaudiologia da UPF e militante do Plural Coletivo LGBT e do Coletivo Nada Será Como Antes.


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