Em breve, serão sediados no Brasil, os dois maiores eventos esportivos mundiais, a Copa do Mundo de Futebol em 2014 e os Jogos Olímpicos em 2016. Pensando nisso, o Movimento Estudantil de Educação Física, trás algumas reflexões para o conjunto do movimento estudantil e para os diversos movimentos sociais da classe trabalhadora.
Entendemos que estes eventos apresentam diversas contradições, notamos que o esporte hegemônico nos eventos e que é propagandeado pelos mesmos, é o esporte espetáculo, também fruto da produção humana, mas que defende interesses de uma parte minoritária da sociedade que é quem hoje está no controle da mesma: A classe burguesa. Os valores que aparecem neste esporte: competição, individualismo, recordes, vitória, derrota entre outros, não contribuem para o processo de conscientização da grande massa da população sobre o real caráter deste esporte, contribuem apenas para a criação de uma falsa imagem de nação unida e desenvolvida, que na verdade não se preocupa de fato com o investimento em políticas públicas que possam realmente propiciar o acesso da população aos esportes em áreas públicas de lazer, como praças e parques.
Nota-se que essa concepção de esporte está ligada diretamente à proposta de modificação da imagem dos países sedes, sendo essa mudança, interna e externa. Internamente cria-se um movimento de identidade nacional, em que o povo toma para si esses eventos, como se também fossem seus, e como se os seus interesses também fossem contemplados nestes eventos, sendo assim favoráveis a sua realização deles em seu país. A nível externo constrói-se uma imagem de nação de primeiro mundo junto ao país que realiza o evento, cria-se uma esfera de estabilidade tanto a nível econômico quanto social, vide aos últimos países onde os megaeventos aconteceram e vão acontecer: China, África do Sul e agora no Brasil, todos países emergentes no cenário mundial.
Os impactos sociais causados por estes eventos se mostram na intensa reorganização urbana das cidades sede, essa reorganização é colocada em prática com desocupações de comunidades para a especulação imobiliária, pelos diversos transtornos sofridos por toda a população devido às obras para construção da infraestrutura do evento e pela construção de complexos esportivos faraônicos que após a realização dos jogos, são gentilmente cedidos à iniciativa privada e se o povo que pagou por tudo, quiser adentrar na estrutura, precisa pagar ingresso novamente. Outra conseqüência gritante da realização destes eventos é a onda de desemprego e diminuição dos salários dos trabalhadores quando terminam os jogos, pois, uma vez que a festa passou, seus serviços não são mais necessários.
Nós professores de Educação Física, enquanto estudiosos do esporte e sujeitos que mantém contato direto com essa prática, somos diretamente influenciados, uma vez que nossa atuação é revertida para a identificação de novos talentos esportivos nas escolas, clubes e praças, como se essa fosse nossa única função. Neste processo percebemos uma grande contradição, uma vez que o governo nos empurra para a “caça de talentos” nas escolas, mas investe menos de 3% do PIB em educação, é como tentar tirar leite de pedra! Entendemos que mais financiamentos são necessários urgentemente, mas não para legitimar uma caça aos talentos nas escolas, mas sim para proporcionar a possibilidade de vivência dos mais diversos elementos da cultura corporal (dança, jogos, capoeira, ginástica, circo entre outros) em nossas escolas, por isso lutamos por 10% DO PIB PARA A EDUCAÇÃO PÚBLICA JÁ!
Cabe ressaltar também os impactos ambientais trazidos pelas obras para os megaeventos, uma vez que essas estruturas depois de prontas irão pesar ainda mais no consumo de bens naturais como água e energia, por exemplo, além de onerar a já tão mal distribuída verba do estado para os investimentos sociais.
As obras para a copa de 2014 estão em andamento, e em quase todas as sedes, já aconteceram greves dos trabalhadores contra a alta exploração de sua mão de obra, os trabalhadores lutam contra baixos salários, sobrecarga de trabalho, e por melhores condições de segurança entre outras pautas. Essa realidade não é “privilégio” brasileiro, diversos países pelo mundo, também enfrentaram essa situação quando se preparavam para a copa, esse foi o caso da África do Sul, último país a sediar a copa, onde greves de trabalhadores explodiram e chegaram até a ameaçar a realização do evento, não é possível encontrar muitos relatos na mídia porque inteligentemente os donos do jogo, não permitem que informações deste tipo cheguem aos ouvidos do povo.
Como se não bastasse toda a exploração no canteiro de obras, surge ainda nos gabinetes dos parlamentares mais um elemento para garantir mais corrupção e impunidade para os verdadeiros interessados nos jogos (FIFA, COI, GOVERNO E PARLAMENTARES, DIRIGENTES ESPORTIVOS), a Medida Provisória 527 cria um regime diferenciado de contratação de licitações, o qual possibilita que as grandes empreiteiras conquistem licitações de obras sem sofrerem um acompanhamento rigoroso dos gastos que serão envolvidos, colocando no popular “fica tudo embaixo do tapete”. Em tempos de ficha limpa na política e necessidade de transparência no gerenciamento dos gastos, a MP 527 representa uma política de total aliciamento do Estado aos interesses das grandes empresas e não do povo brasileiro.
Para completar toda essa política de corrupção, as duas maiores figuras dos megaeventos no Brasil, o Presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) Ricardo Teixeira e o Ministro do Esporte Orlando Silva, enfrentam denúncias de corrupção direta, sendo alvos de investigações do Ministério Público Federal por diversas denúncias de desvios de verbas e favorecimentos a grandes empresas, com duas figuras como essas a frente dos megaeventos no Brasil, fica difícil acreditar em transparência, portanto, acreditamos que já é hora de sujeitos assim serem retirados da organização tanto da copa do mundo 2014 quanto das olimpíadas 2016.
Com todo esse circo montado, é engraçado notar que quem financia tudo fica do lado de fora, sem poder entrar na festa, os valores abusivos cobrados tanto pela FIFA, quanto pelo COI para a entrada nos eventos e medidas como a tentativa de derrubada do estatuto do idoso e a lei da meia entrada para eventos deste porte, buscam apenas aumentar os lucros dessas organizações que hoje se encontram acima do bem e do mal, notamos a total submissão do estado a FIFA e ao COI, quando o prefeito do Rio de Janeiro sugere que o estado pague para a FIFA, a diferença dos valores das entradas dos idosos e dos contemplados com o benefício da meia entrada, mas relembramos que o dinheiro público sai do bolso dos trabalhadores, portanto quem pagará essa diferença na realidade não deixa de ser o trabalhador já tão explorado por toda essa engrenagem corrupta.
Outro fardo que pode pesar nas costas dos trabalhadores, são os possíveis prejuízos que as cidades sede podem ter com a realização dos megaeventos, advertimos que os lucros não são iguais, as organizações (FIFA e COI), tem o seu faturamento em separado ao das cidades sede, após a copa da África em 2010 enquanto a FIFA estimava lucros estratosféricos, o país sede não sabia o que faria com os estádios construídos por milhões de dólares e que agora custariam outros milhões para serem mantidos, só que sem copa do mundo, ou outros eventos para ajudar, casos como o da cidade de Montreal que após sediar os Jogos Olímpicos de 1976 demorou 30 anos para saldar sua dívida, que por sinal foi paga pela sua população, contribuem ainda para exemplificar quem realmente ganha e quem paga por toda essa festa.
Por isso a Executiva Nacional de Estudantes de Educação Física é contraria a vinda dos megaeventos esportivos para o Brasil, e defende a necessidade da classe trabalhadora se apropriar dos esportes, e demais elementos da cultura corporal de forma crítica e através de políticas públicas de esporte e lazer, de fato discutidas com a população e não propostas que venham de cima para baixo. Políticas estas que ferem as demandas de acumulação de riquezas do grande capital e exigem que a área do conhecimento da educação física se coloque a defender outra forma de apropriação do esporte, este na perspectiva da classe trabalhadora!
Só assim, a copa será verdadeiramente nossa!
DA COPA, EU ABRO MÃO. EU QUERO 10% DO PIB PRA EDUCAÇÃO!
Executiva Nacional de Estudantes de Educação Física
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